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A burguesia quando se sente ameaçada por alguma ação tomada pela sociedade, que não tenha sido pensada por ela, usa seus meios de comunicação para neutralizar aquelas ações.
É óbvio que para acreditarmos nessa ideia temos que crer na existência de algumas categorias: burguesia, luta de classes, etc.
Em 1988 grande parte da grande mídia, de propriedade de famílias burguesas, encontrava-se apoiando a redemocratização do país. Não nos esqueçamos que nos primeiros anos da década de 1980 muita gente ia para as ruas mostrar seu descontentamento em redor de todo o Brasil. Seja em greves contra o arrocho salarial, seja em manifestações contra a carestia, ou mobilizações contra a Ditadura Militar, dentre outros motivos. Muitas dessas mobilizações terminaram em violência, como o quebra-quebra dos ônibus de Salvador em Agosto de 1981, por exemplo.
O retorno às eleições diretas para Governadores em 1982, e a tentativa de eleição direta para Presidente entre 1983 e 1984 caíram como uma luva para as elites, que precisavam colocar a população no caminho da “paz”.
Seria preciso um instrumento duradouro para por fim, ou acalmar, as mobilizações com claro viés radical. A revista IstoÉ, em seu editorial na edição de 30 de novembro de 1983, parecia prever qual seria:
O título eleitoral, transformado em fetiche, assumiu para o brasileiro o valor emblemático, mobilizador, de um direito elementar de que lhe foi despojado. Algo indiscutível em torno do que as pessoas podem se unir, acima de suas eventuais diferenças políticas, pois ninguém em boa-fé duvida que somente a renovação pelo voto direto poderá salvar o país…
Quando anarquistas de Salvador decidem se reunir com um grupo de classe média insatisfeito com a generalização da corrupção na política baiana, políticos se unem aos órgãos midiáticos da cidade para contra-atacar.
Em 17 de Outubro de 1988, mesmo dia que Manoel Castro criticava o Voto Nulo no jornal A TARDE, sai na Coluna Política, no mesmo jornal, o seguinte:
O alto índice de indecisos ainda anotado junto à população de Salvador tem estimulado os grupos que trabalham pelo voto nulo – os tradicionais (se é que podem assim ser chamados) anarquistas e um movimento novo, de definição bastante nebulosa – pregando a omissão da sociedade no instante em que esta participação é da maior importância para a consolidação do regime democrático. É preciso salientar que esses grupos têm trabalhado num terreno dos mais férteis, devido a descrença que grassa junto à população, não apenas em relação aos políticos, mas sim, quanto ao comportamento dos homens públicos de modo geral. No entanto, a pregação pela omissão é das mais perigosas porque conduz diretamente a um beco sem saída e só interessa aos que defendem a teoria do “quanto pior, melhor”.
Sábado postaremos mais informações sobre a Campanha do Voto Nulo de 1988. Incluindo matérias de jornais que circularam em Salvador trazendo a opinião dos anarquistas sobre aquela Campanha.