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Entre 2000 e 2005 foram publicados 18 edições do boletim Bandeira Negra.
O ponto alto da organização do boletim talvez tenha sido o Seminário ocorrido em Vitória da Conquista, em Novembro de 2004, com gente de muitos lugares do estado da Bahia, decididos a discutir tanto sobre a manutenção do informativo, quanto das possibilidades da Federação Anarquista no estado.
Mas a vontade e o desejo não parecem ter sido tão fortes quanto às “forças ocultas”, e a organização de grupos e indivíduos do estado foi se fragilizando até que no segundo semestre de 2005 não se conseguiu mais produzir novos boletins.
Naquele mesmo mês de outubro de 2004 outro grande momento do boletim. A publicação de uma das melhores capas na minha opinião.
Segue o texto completo daquela capa.
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Viver supõe colocar-se a disposição de si mesmo, criando dia a dia a alegria de experimentar e desfrutar de tudo que é novo.
Mas quando somos pequenos e parece que desfrutamos, comendo “guloseimas” completamente cheias de deliciosas químicas, perdemos, na realidade, a ocasião de ocupar a rua correndo e descobrir um enorme mundo que nos rodeia e nos é desconhecido.
Quando vamos crescendo somos aparentemente felizes comprando produtos de marca que nos fazem parecer “mais interessantes” para o resto das pessoas, mas perdemos a linda ocasião de ser corpos livres que desfrutam do que fazem ou sentem, em lugar de adormecer nossas mentes com a ânsia superficial e desesperada de que nos olhem ou contemplem. Quando gastamos tempo e energia para conseguir os objetos anunciados na TV, estamos esquecendo nossa capacidade de criar, imaginar e desenvolver nossas capacidades em gozar desse tempo da nossa existência.
Quando vamos crescendo, e não descansamos até conseguir um carro fabuloso ou uma moto “incrementada”, deixamos de lado o prazer da relação com as pessoas porque agora já unicamente somos disciplinados a nos satisfazer com objetos metálicos, de fria textura e desoladora realidade.
Quando vendemos nosso futuro de liberdade, para adquirir um “apartamento de não sei quantos metros quadrados” ou um “quarto e sala bonitinho”, é obvio que hipotecamos nosso futuro de felicidade, porque já unicamente nos dedicamos a pagar e pagar… condenando-nos ao cárcere da competitividade desumanizada.
Consumir é sinônimo de paraíso de liberdade e quanto mais gastamos e gastamos, mais adormecemos o sentido da vida e nossos sonhos se convertem em pesadelos, nossa verdade em subjetividade, nosso amor em conta corrente e nossa liberdade no pássaro abatido pelo tiro fortuito desta triste realidade.
Aprender a viver é desfrutar do pequeno e insignificante da vida, do sentimento que transborda nossas relações, do improvisado e desvalorizado; é em definitivo estar disposto a abordar o mundo sem essa maleta de necessidades em que convertemos nossas ilusões e desejos.
Livre tradução do texto encontrado no Boletim La Racha,
Número 10, Junho de 1998,
assinado pelo Coletivo da Escola Paidéia,
Mérida, Espanha.