Germinal (1)

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O jornal que identifiquei como o primeiro a lançar ideias de anarquistas na Bahia foi GERMINAL. No texto transcrito abaixo, publicado na edição do jornal de 1º de Maio de 1920, Everardo Dias, um anarquista com todos os paradoxos possíveis, como no caso da sua participação no PRP (Partido Republicano Paulista), escreve acerca da Liberdade e da capacidade dos políticos em geral de enganarem o Povo. Germinal publicava matérias de gente que se definia como Socialista. Muitos deles, defensores da Revolução Russa, ainda com três anos de idade, eram encontrados em suas páginas, abordando assuntos como “bolchevismo” e “syndicalismo”.
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Germinal nasce como umas das consequências da Greve Geral de Junho 1919, em Salvador. O jornal era dirigido por Agripino Nazareth, uma das lideranças daquela greve. Nas próximas postagens trarei mais alguns textos com conteúdo anarquista.
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Boa leitura. E até Terça-Feira, quando volto a postar.
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Por Everardo Dias (1883-1966)
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Se os nomes se gastassem com o uso, de há muito que o povo não mais possuiria o seu.
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Não há político sem mérito que não abuse dele; não há jornalista burguês que não o traga e não o leve, aproveitando-o para os mais opostos fins; não há clube secreto, nem assembleia pública, nem púlpito de igreja onde não se fale do povo, onde não se alardeie que se trabalha pelo seu melhoramento e pela sua emancipação. O que eles nunca dizem é que o povo é um conjunto de degraus para a consecução das suas secretas ambições, que é a escada pela qual se trepa ao poder, que é a máscara com que se ocultam as traições, que é o editor responsável de tudo quanto é ruim e detestável…
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Disse Guerra Junqueiro:
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“O povo é rei. É rei como Jesus, Para beber o fel, para morrer na Cruz!”
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Uns o amordaçam, outros o enganam; todos o exploram.
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À sua sombra canta-se a lealdade e medita-se na traição… Com seu involuntário concurso executam-se as maiores indignidades. Dentre a sua compacta massa saem, periodicamente, um guerreiro, um poeta, um orador, um político. Mas o guerreiro o espaldeira, o legislador o escraviza, o poeta o abandona para arrastar o seu gênio perante o poder, o orador o acusa, o político o vende.
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Eterna vítima de uns e outros, espera há tempos, tanto destes como daqueles, o cumprimento das suas falazes promessas.
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Se a civilização não tivesse despedaçado os grilhões da escravidão, ainda permaneceria escravo.
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Os seus salvadores, os seus apologistas, os seus defensores o empregaram como instrumento necessário de ódio e depois o abandonaram. É que o povo permaneceu ainda na sua infância com todo o entusiasmo e com toda a inexperiência, próprias da primeira idade.
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À força de ser crédulo, é idólatra e constantemente o vemos prostrar-se perante o senhor, tremer perante o monarca, julgando-o uma entidade sobre-humana e adorar mais tarde aquele que lhe trouxe a morte sob as dobras da bandeira augusta da Liberdade…
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Mas, como a idolatria é cega durante certo tempo somente, o povo começa a abrir os olhos e contempla a etrusca feiura dos seus ídolos de hoje e prepara-se para os derribar do pedestal onde noutros tempos contritamente os colocara.
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Já começa a conhecer os seus verdadeiros interesses, a distinguir os que realmente são seus amigos, e benfeitores e a apreciar com justiça o valor que têm os seus falsos apóstolos; e assim que a idolatria seja sobrepujada pelo desprezo, o povo terá vida e representação próprias e não será instrumento de bastardas ambições, nem pedestal para onde trepem os farsolas que querem aparecer mais altos do que realmente são.
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Texto transcrito do Jornal Germinal, Bahia, 1º de Maio de 1920.

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Arquivado em Década 1920, Jornalismo

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